É o início de algo novo. Muitos podem achar a escolha do título estranha, pois o termo “gênesis” remete inicialmente a uma história que não acabou muito bem. A primeira leitura, considerando o contexto cultural, é realmente a interpretação literal que representa a decadência humana pela quebra das regras e a busca pelo conhecimento. Uma leitura mais profunda, no entanto, pode agregar um valor para muitos inexistente no contato inicial com o “mito da criação”.
Como cenário, um mundo perfeito e eterno, onde todas (as duas) pessoas sentem-se satisfeitas, sem qualquer tristeza ou remorso. Enfim, o paraíso. Em uma análise livre de paradigmas e preconceitos, faz-se possível uma interpretação bem menos atraente: a perfeição é a de uma situação sem desafios, onde impera o comodismo e, conseqüentemente, a falta de perspectiva. Eterno remete à ausência da morte, principal causadora da mudança e da renovação. Resumindo: por mais que o chamado “paraíso” fosse um tédio absurdo em uma redoma de proteção divina, o casal permanecia alienado, sem contestar a situação, fazendo absolutamente nada.
Em um de seus passeios, Eva, como era chamada a mulher, deparou-se com a árvore da Ciência do Bem e do Mal. Imediatamente seus olhos focaram as tentadoras maçãs que ali cresciam. Claro que, pela curiosidade inerente ao ser humano, era o único fruto que seu criador a proibira de comer. Adão, o homem, também não resistiu à idéia. Ao abocanhar a tal “ciência”, o casal foi jogado em um mundo onde a morte é algo real, um mundo onde cada minuto deve ser aproveitado como se fosse o último, pois eventualmente será. Nesta nova realidade, atos geram conseqüências e pessoas são responsáveis por suas escolhas.
“Eva” significa “vida”, e era exatamente esta a função da esposa de Adão. Sem a vida, não há morte, e vice-versa. Eva nada mais fez do que seguir seus instintos, aquilo que a fazia humana. De fato o homem está preso ao pecado original, pois é movido a desejos e sensações. Como Adão e Eva, nascemos em um ambiente de proteção, onde tudo nos é dado e não precisamos ter opiniões. Nesta fase infantil, não há senso moral para discernir certo e errado. Aos poucos, a curiosidade mostra novas possibilidades, com atos, conseqüências e responsabilidades, e estes trazem a famigerada “ciência do bem e do mal”. Considerando a interpretação literal desta grande metáfora, não é de se espantar que muitos neguem o processo natural chamado “amadurecimento”, e permaneçam presos ao éden familiar.
Bem aventurados os que desenvolvem a coragem para seguir os passos da vida, morder a maçã proibida e abandonar o paraíso. Assim começa um novo capítulo…
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